Freguesia / História

A União das Freguesias da Venda do Pinheiro e Santo Estêvão das Galés foi formalizada com a entrada em vigor da Lei nº 11-A/ 2013 de 29 de janeiro, relativa à reorganização administrativa do território das duas freguesias, suporta a necessidade de abordar o contexto histórico de cada uma.

  • Venda do Pinheiro
  • Santo Estêvão das Galés
  • Não é conhecido qualquer documento oficial sobre a origem do topónimo “Venda do Pinheiro”, mas a tradição oral e o conhecimento da aldeia afastam qualquer ligação ao “comércio de pinheiros”.

    O pinhal - na origem dos chamados “bons ares” que nos anos 40/ 60 atraíram muitos forasteiros a esta terra, alguns dos quais aqui se fixaram - não era suficiente grande para o comércio intensivo de pinheiros, o que impede que por essa razão a terra tivesse ficado conhecida por “Venda do Pinheiro”, designação que claramente afasta a tese do comércio daquelas árvores, por não ser “Venda de Pinheiros” nem “Venda dos Pinheiros”.

    Iremos encontrar similitude na formação do nome da vizinha “Venda do Valador”, onde não consta que se “comercializassem valadores” ou seja “Que ou aquele que trabalha em vales ou valados”.

    O que se sabe é que “Valador” era o apelido de uma família muito antiga da localidade e que “venda” é um local, pequeno estabelecimento, tipo taberna ou mercearia de aldeia.

    Chega-se assim à origem daquele topónimo, que a tradição oral garante ter sido uma “taberna” do “Ti Valador”, onde os hortelões e lavadeiras da região se juntavam para irem em conjunto para Lisboa e vice-versa, minimizando o perigo dos assaltos, muito comuns na época.

    Toda esta explicação permite-nos chegarmos ao topónimo “Venda do Pinheiro”.

    “Venda do Pinheiro” quer portanto dizer “local” onde havia comércio e “um pinheiro”. Podia ser uma loja junto de um pinheiro, mas isso seria insuficiente para identificar o local com tantas casas na aldeia que teriam pinheiros à porta. E só por isso não seria tão popular que acabasse por identificar uma aldeia como seu topónimo.

    Apresentados os factos passemos à tradição oral.

    O que os mais antigos sabem, até porque isso foi referido nas aulas pela inesquecível professora Júlia Barros, por outras pessoas da aldeia ainda vivas, e pela minha avó paterna Maria do Carmo, que faleceu quase centenária, que o ouvira da boca da madrinha que a criara, também falecida em idade avançada, e que o havia sabido dos seus antepassados, é que existiu uma “venda” à sombra de um “pinheiro manso”, localizado a meio da povoação do lado direito de quem segue para Lisboa.

    E porque é que essa “venda” se tornou tão famosa?!

    Porque o que ali se vendia - de vez quando - não existia nas feiras e era um comércio muito raro na época: “carne de vaca”, que o carniceiro ou talhante pendurava nos ramos de um pinheiro manso. Há também a versão que também seria comercializada no mesmo local, por vezes, “carne de cavalo”. Ideia que não me choca, porque conheci nos anos 50 na Venda do Pinheiro um talho legalizado de carne de cavalo.

    Portanto, quando em tempos idos acontecia esse comércio de carne logo corria a notícia de boca em boca “Vamos à venda do pinheiro”.

    E “Venda do Pinheiro” ficou.

    Tal como costumava dizer o historiador Professor José Hermano Saraiva, com quem trabalhei vários anos, como realizador dos seus programas para a RTP: “Quando não se conhece um documento oficial sobre um acontecimento pode aceitar-se a tradição oral, desde que não contradiga a lógica”.

    É o caso!

    Nunes Forte (30.8.2019)

  • A referência mais antiga que se conhece da antiga freguesia de Santo Estêvão das Galés é a lenda da transformação de pedras em pães por Santo Estêvão, o primeiro mártir do cristianismo, celebrado a 26 de dezembro no Ocidente e a 27 de dezembro no Oriente.

    “Segundo Étienne Trocmé, Estevão pertenceu a um grupo de cristãos que pregavam uma mensagem mais radical, conhecido como os helenistas, porque os seus membros tinham nomes gregos e eram educados na cultura grega. Tendo-se separado dos doze apóstolos, ficaram conhecidos como o “grupo dos sete”. Estêvão tinha a seu cargo o “serviço do alimento”, o que não obstava ao "serviço da palavra" uma vez que diversos homens afluíam para discutir com ele, mas não conseguiam fazer frente "à sabedoria e ao espírito com que falava". Também contribuiu para sua fama o facto de "cheio de graça e de poder", realizar "grandes portentos e sinais entre o povo. Foi detido pelas autoridades judaicas, levado diante do Sinédrio (a suprema assembleia de Jerusalém), onde foi condenado por blasfémia, sendo sentenciado a ser apedrejado”.

    O apedrejamento e a distribuição de alimentos ligados ao mártir são a base em que se apoia a lenda local de Santo Estêvão das Galés que passamos a referir:

    Conta-se que havia a intenção de erguer um templo no vale, entre o sítio das Cruzinhas e o lugar de Monfirre (onde foi encontrado um túmulo romano, que atesta – entre o século I e o século V dC - a presença romana na região), mas a imagem do santo que o povo colocava no vale desaparecia, aparecendo no dia seguinte, inexplicavelmente, no alto, onde se encontra atualmente a igreja.

    E tantas vezes aquele facto se repetiu que o povo, desesperado, passou a “correr a imagem à pedrada” para o vale, sem nunca conseguir o seu objetivo, porque reaparecia sempre no alto da região, hoje designado Santo Estêvão das Galés.

    Por essa razão foi decidido que o templo seria construído no local onde a imagem costumava reaparecer.

    A lenda conta ainda que, por intervenção de Santo Estêvão, as pedras que lhe haviam sido atiradas se transformaram em pães, dando origem à “Festa dos Merendeiros, que desde tempos muito remotos se continua a realizar, a 26 de dezembro, na cerimónia litúrgica do dia padroeiro, com a oferta do merendeiro (pão) aos fiéis”.

    (Adaptação de Nunes Forte de textos publicados na internet e do texto de Agostinho de Almeida: O Natal na Freguesia de Santo Estêvão (Mafra). A Festa dos Merendeiros in Boletim da Junta da Provincia da Estremadura. S.2.22, set.- dez. 1949.p. 385-87). Fonte Biblio CAETANO, Amélia “lendário mafrense” in Boletim Cultural ’93 Mafra, Câmara Municipal de Mafra, 1994, p.272.)